Projeto Rim Art completa 23 anos reconstruindo histórias de vida no HGF

 

Foto:  Suzana Mont’Alverne


A arte estimula, alegra e preenche vazios com esperança. No Hospital Geral de Fortaleza (HGF), equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), esse encorajamento acontece por meio do Rim Art. O projeto, idealizado pelo serviço de Nefrologia, proporciona, desde 2001, melhorias na qualidade de vida dos pacientes renais que dependem de hemodiálise e/ou transplantados.

Doenças renais crônicas resultam em consequências graves, limitando a capacidade dos pacientes de manterem suas rotinas pessoais ou profissionais. Foi a falta de motivação e desânimo dos pacientes em hemodiálise que levou o serviço de Nefrologia a buscar alternativas para promover o bem-estar desses indivíduos.

A enfermeira Suely Freitas de Oliveira, uma das fundadoras do Rim Art, iniciou sua trajetória no projeto após vivenciar a hemodiálise devido a complicações no parto. “Passei um mês realizando diálise e enfrentei todas as tristezas associadas a isso, então prometi me dedicar aos pacientes renais”, relembra. Embora tenha se aposentado, continua atuando como coordenadora no Rim Art.

O projeto foi elaborado pela Nefrologia e aceito pelo diretor do HGF à época, Sílvio Paulo da Costa, que cedeu o espaço necessário. “Era uma área pequena, localizada no pátio do sexto andar, que compartilhamos com os residentes vindos de outros estados, equipada apenas com uma mesa e um armário”, conta. Desde então, a enfermeira menciona que a base do projeto passou por várias mudanças até finalmente conquistar a sala que ocupa atualmente, no segundo andar do Edifício Régis Jucá.


Foto:  Suzana Mont’Alverne


Quinze pacientes estão envolvidos no projeto, que opera sem fins lucrativos. “Oferecemos atividades como cestas com revistas e jornais, crochê e pintura em tecidos. Não possuímos recursos financeiros diretos, dependemos amplamente de doações de botões, linhas e pedrarias. Além disso, conseguimos adquirir os materiais necessários através de feiras e bazares de roupas, onde também recebemos doações”, explica. As feiras ocorrem uma vez por mês nas dependências do hospital.

Recriar histórias

O grupo, composto por assistente social, enfermeiro, médico e psicólogo, fortalece também a autoconfiança dos pacientes. “Temos conosco pessoas que já passaram por muita coisa, que deixaram de acreditar e tiveram pena de si. É revigorante saber que podemos restabelecer o desejo de conquistar”, pontua a coordenadora do projeto.

George Jacinto, de 34 anos, é integrante do projeto desde 2018 e um dos pacientes que redescobriu a autoconfiança e o afeto. “A descrença, principalmente na minha capacidade, começou em casa. Tive um pai muito duro, que não usava palavras positivas sobre a minha condição. E aqui, somente aqui, recomecei”, compartilha. Portador de deficiência física, George passou por transplante renal aos catorze anos.

Atualmente no último semestre da faculdade de Ciências Contábeis, Jacinto conta que está realizando um sonho e que encontrou o incentivo também no Rim Art. “Minha mãe sempre quis cursar uma faculdade e não conseguiu. Entrei no projeto falando dessa vontade, isso foi abraçado por todos. Tenho ajuda emocional, financeira (uma médica custeia o curso) e cada conquista é comemorada como se fosse deles. Meus pais faleceram e aqui me refiz como alguém, também em família”, relata com orgulho.

No projeto há três anos, Ana Lúcia Colares, 57, afirma que aprimorou suas habilidades (crochê e pintura) e construiu conexões de afeto no espaço do HGF. “Encontrei acolhimento, ajuda para superar e compreender melhor. Aqui passei a não me sentir só. Essas pessoas me ajudam muito”, compartilha. Ela tem planos de tirar a carteira de artesã e recebe apoio dos colegas também na precificação do que produz para venda fora do Rim Art.

“Tenho muita dificuldade em colocar preço nas minhas peças. Mostro para os colegas e sempre ouço que eu preciso aprender a valorizar e acreditar no meu talento. Viver com essas pessoas, ter esse projeto é valioso para a minha vida, e olhe que eu já cheguei a acreditar que não tinha sentido estar viva”, relata emocionada.

“Esse projeto é muito importante e faz a diferença de quem participa, seja paciente ou profissional. Rim Art muda e salva vidas”, enfatiza Suely.


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